O Pintor e a Modelo - Pablo Picasso |
Diferentemente dos outros posts que escrevo, esse terá um caráter mais excludente. Estou escrevendo para um público mais específico: os leitores que se sentem perdidos e sem orientação. Vejo que muitos leitores só leem os livros que todo mundo está lendo, o que, por si só, é bem perigoso. Segue uma regra aritmética de um professor de português: quanto mais o livro vende, maior é a chance dele não prestar.
A ideia desse post é dar novas opções literárias aos leitores que já perceberam que ler os livros do John Green, do Dan Brown, da JK Rowling, da Stephenie Meyer, da EL James, entre outros, não são suficientes para o seu crescimento intelectual.
Não sou contra nenhum tipo de leitura, cada um pode e deve ler o que bem entender, mas se você está aqui, deve ler esse post com a mente aberta e perceber que os autores citados acima só querem te entreter e não têm o menor interesse em te causar nenhuma reflexão que seja. Eles querem compradores de livros, não seres pensantes.
O que proponho aqui é uma ponte entre os autores de clássicos e os autores de modinhas. O problema dos clássicos, é que geralmente possuem uma linguagem inacessível para um leitor inexperiente e, portanto, ainda incapaz de entender as reflexões trazidas por esses livros. O problema das modinhas é que não te causam nenhuma reflexão e as chances de você ficar lendo os livros desse gênero para sempre são altas, caso você não perceba que entrou na bolha das modinhas.
Essa ponte entre clássicos e modinhas é feita a partir de autores contemporâneos e de boa qualidade. São autores que possuem uma linguagem acessível para todos os leitores, experientes ou não, e que procuram trazer alguma mensagem nos seus livros, não escrevem puramente para entreter os seus leitores.
Apresentarei os autores a seguir da maneira mais breve possível e sempre com algumas indicações.
Devo alertar que o primeiro livro das indicações é o que recomendo para começar a ler o autor e que os que vêm na sequência, seguem uma ordem aleatória.
Segue a lista:
Charles Bukowski (1920-1994) - Literatura Americana
Ninguém melhor para começar essa lista. Se você conhece um adolescente que não ainda não adquiriu o amor pela leitura, apresente Bukowski para ele que rapidamente o cidadão adquirirá o gosto pela leitura. É um autor que vai direto ao ponto, na literatura de Bukowski, não existe tempo e nem espaço para metáforas, as coisas são o que são. A temática de Bukowski é sempre pesada, suja, reflexiva, questionadora, algo perfeito para adolescentes. Temas como prostituição, bebida, sexo, solidão, porradaria, misantropia, niilismo e qualquer tema submundano estão presentes na sua obra. Foi uma sonora voz contra o American Dream.
Indicações: Misto-Quente (romance); Mulheres (romance); Ao sul de lugar nenhum (contos); Numa Fria (contos); O Capitão Saiu para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio (diário autobiográfico)
Clarice Lispector (1920-1977) - Literatura Brasileira
Pelo amor de deus, aqui é uma questão de vergonha na cara. Não compartilhe frases de autores que você nunca leu na vida, para o seu próprio bem. O texto de Clarice é extremamente poético, cheio de metáforas, detalhes, psicologia e que definitivamente te fará pensar. É uma autora que trabalha muito com o abstrato e deixa o concreto um pouco de lado. A leitura pode te causar um estranhamento e até um certo desconforto no primeiro momento, mas continue em frente.
Indicações: A Hora da Estrela (romance); Perto do Coração Selvagem (romance); Laços de Família (contos)
José Saramago (1922-2010) - Literatura Portuguesa
O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1998 nos deixou uma obra riquíssima e muito vasta. Saramago inovou de muitas maneiras, mas duas merecem total destaque. Você consegue imaginar um texto sem travessões, pontos de exclamação e interrogação? Pois é, Saramago conseguiu e toda a sua literatura é assim. Um texto extramente fluido e de tirar o fôlego. A segunda inovação de Saramago foi misturar fantasia e realidade de uma maneira tão bem feita que você esquece todo o absurdo das situações que ele cria e mergulha de cabeça na história. Foi um grande crítico do mundo contemporâneo e da era de imbecilização em que vivemos.
Indicações: As Intermitências da Morte (romance); Ensaio Sobre A Cegueira (romance); O Homem Duplicado (romance); O Evangelho Segundo Jesus Cristo (romance)
Mario Benedetti (1920- 2009) - Literatura Uruguaia
Benedetti foi a minha grata surpresa de 2016. Ele é simplesmente genial. Um autor que consegue elaborar histórias de amor sem ser meloso e tem uma sensibilidade pelas emoções humanas como ninguém. Ele trata as banalidades do cotidiano de forma muito natural e sempre tem um ar nostálgico. Vale muito a pena ser lido, sobretudo se você tem algum interesse em saber um pouco sobre o Uruguai, sua terra natal.
Indicações: A trégua (romance); A Borra do Café (romance)
Rubem Fonseca (1925-) - Literatura Brasileira
Um apelo: leiam Rubem Fonseca antes que ele morra! Apesar de ainda estar vivo, Rubem nunca gostou de holofotes e se mantém propositalmente quase como um desconhecido. Ele diz que o trabalho de um escritor é observar e se for mais observado do que observar, perderá a sua matéria prima. Eu o costumo o chamar de o Bukowski brasileiro. Detetives e matadores de aluguel são recorrentes na sua obra. De um modo geral, qualquer tema relacionado à violência está presente em Rubem Fonseca. Prostituição, corrupção, bandidagem, sexo, etc.
Indicações: Amálgama (contos); Ela e Outras Mulheres (contos); O Cobrador (contos); Feliz Ano Novo (romance); Agosto (Romance)
Lygia Fagundes Telles (1923-) - Literatura Brasileira
Assim como Rubem Fonseca, já está com o pé na cova, leiam antes que morra! Lygia começou a sua carreira em meados dos anos 60 e não parou mais. Sua temática é bem psicológica e filosófica, acredito que só uma mulher conseguiria fazer literatura do jeito que ela faz. As histórias são muito bem costuradas e geralmente possuem um final surpreendente.
Indicações: A Estrutura da Bolha de Sabão (contos); A Noite Escura e Mais Eu (contos); Ciranda de Pedra (romance)
Ernest Hemingway (1899-1961) - Literatura Americana
Charles Bukowski era um grande admirador de Hemingway, e não era para menos. Ambos se assemelham muito no jeito de escrever e são autores sem tempo para metáforas, falam as coisas como são, sem enrolação. O segundo Prêmio Nobel de Literatura da nossa lista era um homem que gostava muito de viajar e sempre escrevia sobre essas viagens. É um autor simples e que vale a pena ser lido. Temas como bebida, mulheres, viagens e solidão são recorrentes na sua obra.
Indicações: O Velho e o Mar (romance); O Verão Perigoso (romance); Por que os Sinos Dobram (romance)
Marcelo Rubens Paiva (1959-) - Literatura Brasileira
É uma pena que a nova geração de leitores não faça ideia da existência de Marcelo Rubens Paiva. Após sofrer um acidente que o deixou paraplégico, ainda no começo de sua vida adulta, ele resolveu escrever sobre a sua vida até aquele momento e como lidou com aquela situação. Marcelo consegue ser extremamente sentimental sem ser meloso. Seus livros sempre estão relacionados às relações humanas, sempre falando sobre relacionamentos e as dificuldades em lidar com eles. Textos simples, mas de muita qualidade.
Indicações: Feliz Ano Velho (romance); A Segunda Vez que te Conheci (romance); Bala na Agulha (Romance); As Verdades que Ela não Diz (crônicas); Malu de Bicicleta (romance)
Jô Soares (1938-) - Literatura Brasileira
Jô Soares nunca quis escrever livros de literatura, mas foi influenciado por seu amigo, Rubem Fonseca, também já citado aqui. Apesar de sua literatura não ter uma pegada reflexiva, é de um senso de humor muito peculiar. Sempre com histórias envolvendo assassinatos, serial killers e muito humor, Jô Soares usa o Rio de Janeiro, sua cidade natal, como o plano de fundo de seus romances. Uma ótima indicação para quem procura livros leves, bem humorados e com uma pegada histórica.
Indicações: O Xangô de Baker Street (romance); O Homem que Matou Getúlio Vargas (romance); Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (romance); As Esganadas (Romance)
Nelson Rodrigues (1912-1980) - Literatura Brasileira
Nas crônicas de Nelson Rodrigues, ninguém é santo. O autor sempre nos alerta sobre isso, de que bem no fundo, ninguém presta e que o maior dos santos também tem culpa no cartório. Dentre os temas abordados por ele, destacam-se adultérios, mentiras, assassinatos, suicídios, flagrantes, enfim. Lendo Nelson Rodrigues, você descobre que ninguém é santo e que até a pessoa que você mais confia na vida, em algum momento aprontará para cima de você. O autor não ficou por último nessa lista à toa, é um autor que precisa e deve ser lido para encararmos o mundo contemporâneo em que vivemos.
Indicações: A Vida Como Ela É... (crônicas); A Vida Como Ela É... Em 100 Inéditos (crônicas); A Mulher Sem Pecado (peça de teatro); Toda Nudez Será Castigada (peça de teatro); O Anjo Pornográfico (biografia escrita por Ruy Castro)
Muito boa as indicações. "já está com o pé na cova, leiam antes que morra" hahaha muito bom
ResponderExcluirTrês livros que me encantaram - As velas ardem até o final - Sándor Marai / A rosa de Saraejvo - Margareth Mazzantini / Sábado - Ian McIwan
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