Por mais que eu banque o durão, às vezes não tem como segurar. E isso aconteceu num ônibus. Nunca imaginei que um camelô pudesse me emocionar. Eu estava lá no banco alto, não sei bem o motivo, mas adoro o tal banco alto, e então, o camelô entrou. Ele foi indo lá para frente do ônibus e começou a falar:
- Boa noite, sen sen sen senhores passageiros. Des des des desculpa interromper o si si si silêncio da sua vi vi vi viagem.
E com muito coragem, ele anunciou os seus produtos: balas e amendoins. Ao que fiquei com vontade de rir no primeiro momento, no segundo, e agora com lágrimas nos olhos, tive empatia pelo camelô. Fiquei pensando na sua coragem. Além da vergonha inicial de ser camelô de ônibus, ele ainda era gago. E não desistia de tentar e tentar de novo. Quando travava muito, ele parava, respirava fundo e tentava de novo.
Ele foi passando, quase ninguém comprou. Ele foi até o fim do ônibus, naquele espaço que tem cinco bancos e vendeu alguma coisa. Eu levantei o dedo e o chamei, ele veio, muito educado. Naquele momento, eu nem percebia mais a sua gagueira, percebia um homem com muita coragem de seguir em frente, mesmo com os suas dificuldades. Comprei um pacote com balas de caramelo, e disse "parabéns pela coragem", ele agradeceu e disse para eu ir com deus. Meu amigo, também com lágrimas nos olhos, comprou um pacote.
Às vezes eu penso em como sou covarde. O camelô, apesar de todas as suas dificuldades, não desistia de alcançar os seus objetivos. E eu aqui, cheio de medos. Woody Allen está certo, como disse no filme Manhattan "Talento é questão de sorte, o que importa na vida é a coragem." E ao meu ver, o único jeito de ser corajoso é fazendo, é agindo. Coragem não combina com teoria, só com prática.
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