Cansado de todas as traições que estava sofrendo há pelo
menos um ano, Jorge resolve se afundar na bebida. Ouvia dizer que era um
caminho sem volta, mas ele queria pagar para ver.
Resolve beber no pé de chinelo da esquina, que era sempre
mal frequentado, no entanto, tinha bebidas mais baratas do bairro. Chegando lá,
encontra seu amigo Eustáquio e desabafa:
- Poxa Eustáquio, eu não sabia que ser traído era tão ruim,
tão ruim que nem sei mais o que fazer, estou sem rumo, mais perdido que
cachorro de casa abandonado.
Eustáquio então se solidariza com a situação do amigo e diz:
- Porque não arrumar um affair?
- O que é um affair?
- Affair é uma espécie de bateria para quando o celular está
quase descarregando. Mas no seu caso, é outra mulher!
- Eu não quero trair a Vilma! Ela é uma mulher honrada!
- A Vilma te trai há pelo menos um ano. E o mais engraçado é
que você sabe!
- É que não sei com quem que é! O cabra nem ao menos deixa
uma pista, parece o Mister M.
- Deve ter algum jeito de pegar o salafrário, deve ter!
Nunca pensou em contratar um detetive?
- Um detetive?
- É, um desses caras que vemos nos filmes americanos.
- Ah, mas isso é coisa de filme, não acontece na vida real!
- Acontece, acontece.
- Eustáquio, talvez eu prefira o affair. É mais garantido.
- Muito bem Jorge, eu posso tentar te arrumar.
Depois disso, os amigos se despediram e Eustáquio ficou de
dar notícias em até três dias. No segundo, já ligou. Como uma obra do destino,
Jorge atendeu, já no segundo toque:
- Consegui o seu affair.
- Você é muito rápido! Um grande amigo mesmo!
- Sei que precisas.
- De quem se trata?
- É uma das primas da minha irmã, Elizabeth.
- Muito bom, tem quantos anos? É bonita?
- Ela é ótima! Vinte e dois anos e linda!
- Perfeito!
- Quer te ver amanhã, naquele café novo que abriu, perto do
mercado.
- Fechado, já sabe que horas?
- Sei, por voltas das oito horas da noite. Ele vai de
vestido vermelho, é loira e tem olhos azuis, não tem erro.
- Muito obrigado, Eustáquio, nem sei como te agradecer!
- Amigo também serve para isso.
Jorge contava os segundos para ver o seu affair, mal sabia o
real significado da palavra, mas sabia que era algo novo e provavelmente muito
bom. Quando foi dormir, sonhou com Elizabeth, e a imaginou, loira e de olhos
azuis, caminhando num belo vestido vermelho. E quando acordou, lembrou que tudo
aquilo era um sonho, mas que poderia se tornar realidade, ao invés do pesadelo
em que vivia.
Começou a se arrumar às sete da noite e chegou ao café cinco
minutos atrasado, esperando que ela já estivesse lá, estava.
Ele chega perto e pergunta:
- Elizabeth?
- Eu mesma.
- Encantado. Posso me sentar?
- Fique a vontade.
- Obrigado. Já pediu alguma coisa?
- Ainda não, sempre espero a outra pessoa chegar.
- Gosta de cappuccino?
- Gosto.
E então, Jorge pede dois cappuccinos. Ele já estava
encantado com ele durante a conversa e de repente, Elizabeth pergunta:
- Você tem um apartamento?
- Eu não, mas o Eustáquio me emprestou o dele até amanhã.
Vamos?
E ela aceita:
- Vamos!
Os dois seguem em direção ao apartamento de Eustáquio e logo
assim que Jorge abre a porta, os dois já se beijam como dois adolescentes
apaixonados. Em alguns minutos estavam transando e sabiam que ainda tinha a
noite toda.
No entanto, no meio da noite, Jorge resolve voltar para
casa, teve um remorso momentâneo achou que Vilma iria sentir a sua falta. Já
quando estava chegando perto da casa, percebe que a luz do quarto ainda estava
acesa, ela devia estar lendo, adorava ler e também devia estar se sentindo sozinha,
ledo engano.
Assim que abriu a porta da casa, Jorge ouve barulhos
estranhos e até gemidos. Anda bem devagar, pega o revólver que ficava na
varanda e segue em direção ao quarto do casal. Quando abre, pega Vilma
transando com o padeiro, não aguenta tanta dor em um só instante, se mata com
um tiro na cabeça, imaginaria tudo, menos com o padeiro.
Eustáquio foi o único que lamentou a morte do amigo e
Elizabeth disse que ele esqueceu de pagar. Eustáquio pagou a dívida do amigo e
ainda arrumou um novo affair.
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