Pular para o conteúdo principal

O assalto

Era mais uma noite em que tudo correria bem na vida dos passageiros, não fosse o apetite individual e narcisista de dois assaltantes, um com dezesseis anos e outro com vinte e dois. O ônibus teve como ponto de partida, uma cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro, chamada Duque de Caxias, e ia em direção ao centro do Rio de Janeiro. 
O coletivo estava já quase sem lugares para sentar, até que num ponto sombrio, dois homens fizeram sinal. Bem arrumados, sem suspeita de serem suspeitos. O motorista parou, como era o seu dever. Os homens entraram, pareciam viver emoções distintas, entre elas medo, ansiedade e excitação. 
Logo depois que passaram pela roleta, se sentaram no banco preferencial, sempre pintado de outra cor e no começo do ônibus. Conversaram por alguns instantes, antes de concretizarem o ato:
- Tucão, você acha mesmo que devemos assaltar esse ônibus? Olha bem para essas pessoas, cara. São trabalhadores, como a gente! 
- Futruca, eu já estou nessa vida de assalto desde os meus catorze anos e te digo uma coisa: pobre adora parecer rico, a maioria das pessoas é vazia e prefere viver de aparências. 
- Mas Tucão, uma hora pode dar errado e vão te pegar. Você já tem vinte e dois anos. Acha que vai se dar bem para sempre?
- Não, tanto que já tenho passagem pela polícia. Mas que seja eterno enquanto dure. 
- É o meu primeiro assalto, acho que é normal ficar nervoso. 
- O nervosismo faz parte de nós. 
- Não fica nervoso quando assalta?
- Fico, sempre. 
- Então por que continua?
- Porque isso me motiva. 
- Motiva como? Não tem pena dessas pessoas?
- Elas não merecem ter tudo o que tem. 
- E você merece ter as coisas delas? 
- Não mereço, mas vivo fora da lei. 
- Isso não é certo, Tucão. 
- Futruca, vou levantar e você me segue, chegou a hora do assalto!
E assim o fizeram, Tucão, que estava no banco do corredor, levantou e logo em seguida, tirou a arma do bolso, bem atrás dele, Futruca se levantava. Então, Tucão anunciou o assalto:
- Atenção senhores passageiros, isso aqui é uma assalto! Não quero fazer nada com ninguém, então é só colaborar comigo e com o meu amigo aqui. 
Logo depois de proferir a frase intimidatória, Tucão fala para Futruca pegar todo o dinheiro do ônibus, e como já era tarde, sabia que teria uma boa quantia. 
Enquanto Tucão ia roubando os celulares, tênis, relógios e qualquer coisa de valor que encontrasse, Futruca era o responsável por vigiar as pessoas, para que não reagissem ao assalto. 
Quando já estavam no fim do ônibus, um homem, com muito cuidado, retirou um celular velho que possuía e com muita coragem, resolveu ligar para a polícia:
- Alô, estou num ônibus que está sendo assaltado, estamos na Avenida Duque de Caxias, perto do número quinhentos. 
O homem passou todas as informações e esperava que a situação tivesse um final feliz, mesmo que improvável. O que ele não sabia, é que logo em seguida do lugar que ele realizou a ligação, havia uma delegacia e que, se as autoridades colaborassem, a situação poderia ter um final feliz. 
Passados alguns minutos, duas viaturas apareceram bem atrás do ônibus, graças a todas às informações dadas pelo homem e pedem para que o motorista encoste o coletivo. Assim ele o fez, o que gerou alguns murmúrios e uma conversa entre os assaltantes:
- E agora Tucão, o que vamos fazer?
- Não sei, Futruca, não sei! Isso nunca aconteceu comigo antes!
- Eu te avisei que uma hora a casa cai!
- Vai ficar me jogando praga agora?! A culpa disso é tua, me deu azar! Eu deveria ter ficado na minha carreira solo, tinha mais sucesso! Isso que dá querer começar uma dupla!
- Enquanto você reclama, os canas estão vindo aí!
- Eu sei, eu sei!
A animação dos passageiros parecia empolgar até mesmo os mais pessimistas, até que Tucão resolver pegar uma jovem, em torno de seus dezoito anos, para lhe fazer de refém. E logo em seguida, diz para Futruca:
- Futruca, escolhe um aí e faz de recém, é a única saída!
E então, intimidado pelo momento, Futruca escolhe uma outra moça, essa mais velha, em torno dos trinta anos. 
Os policiais, que eram oito, resolvem que não poderia ficar ali parados e sobem no ônibus, pela porta traseira. Tucão anuncia:
- Mais um passo e estouro os miolos dessa aqui, vai ser a primeira!
Futruca, que estava bem atrás de Tucão, engole a própria saliva, num movimento de desespero. 
Até que um dos policiais responde:
- Olha só, só queremos resolver essa situação, se entreguem agora e é o melhor que podem fazer! Não vamos esperar muito, vocês tem cinco minutos para decidir. Depois disso, vão sentir o peso da lei. A escolha é de vocês. 
E então, logo depois das palavras proferidas pelo policial, Futruca dispara contra a cabeça de Tucão, que cai morto, a refém foge. Os policiais olhavam para o que acabara de ocorrer, incrédulos. 
Num último suspiro, entre o dever e desejo, Futruca pensa que nada daquilo teria ocorrido se ele não se tivesse se deixado levar pela cobiça. E entre se matar e viver preso numa sela, ele deu o tiro final, tirando a vida de sua refém. A cadeia não parecia ser um lugar tão ruim assim. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que Charles Bukowski quis dizer com o seu Don't Try

Tanto em inglês como em português, o verbo tentar pode ser transitivo como intransitivo. No entanto, a frase do túmulo de Bukowski é transitiva, mas sem complemento. Ou seja, o verbo try em don't try precisaria de um complemento, como it , por exemplo. Obviamente, o autor fez isso de propósito, deixou a ideia de não tentar em aberto, não tentar o quê, exatamente? Eis o grande mistério.  Bukowski não era o tipo de pessoa que ficava se preocupando muito com as outras, sua principal preocupação era ter uma máquina de escrever para parir suas ideias. Tendo feito isso, ele se preocuparia em ter uma bebida, cigarros e talvez uma mulher ao seu lado.  Seguidor do lema "os homens mais fortes são os mais solitários", Bukowski não era o tipo de cara que se sujeitaria a ter sangue de barata, com ele, era na base do vai ou racha. Ter muitos amigos ou poucos não fazia a mínima diferença, já que sabia que apesar de tudo, a sua própria companhia era o mais importante.

É melhor deixar os livros deitados ou em pé?

Nesse post, falarei sobre como você deve guardar os seus livros. Sei que muitos não tem o espaço que gostariam para guardar seus livros, mas os guarde empilhados só em ÚLTIMO caso. Os livros estragarão se eu os deixar embilhados? Sim. Essa é a resposta, curta e direta. O motivo é simples: com o peso dos livros que ficam em cima, os livros que ficam em baixo terão as suas folhas, capa e lombada danificadas com o passar do tempo. E todos nós sabemos que os livros não são objetos baratos aqui no Brasil, então, podendo conservá-los, por que não? Outro fator interessante, será a dificuldade para pegar o último livro da pilha. Já viu como é chato ter que pegar aquele último livro da pilha? Às vezes vejo fotos de pessoas que fazem uma pilha de livros enorme, do tamanho de uma pessoa. Mesmo que só para um foto, não façam isso, estão estragando os seus próprios livros. Caso realmente não tenha jeito, empilhe os livros no formato de pirâmide, como na foto: O que é possíve

Como deixar os livros em pé mesmo tendo poucos livros

Hoje falarei para aquelas pessoas que estão começando a comprar livros e ainda têm poucos. Ou para aqueles que já têm muitos e por algum motivo deixam uma meia dúzia descartada num canto, empilhados.  Como organizar esses livros de uma maneira em que eles fiquem em pé, mesmo não tendo uma estante para apoiá-los? A resposta é simples: você vai precisar de algum pote antigo, copo, garrafa, enfim, algo que tenha peso suficiente para suportar o peso dos livros. Para tornar o objeto escolhido por você mais pesado, você pode colocar grãos de feijão ou arroz dentro do objeto.  Aqui vale também a criatividade. Uma garrafa ou um pote antigo podem ser reformados, pintados ou reciclados para ter uma aparência mais atrativa. Não tem muito segredo, nesse ponto, o mais importante é usar a criatividade para personalizar o objetivo da maneira que te agrade.  É perceptível como uma nova arrumação muda todo ambiente em que os seus livros se encontram, ficam até mais agradáveis de se a