Como fazer anotações de livros paradidáticos e didáticos

Henri Matisse - Liseuse au Parasol

Introdução

Antes de começarmos, gostaria de fazer uma saudosa homenagem ao professor Pierluigi Piazzi. Sem ele, essas dicas jamais seriam possíveis de ser feitas por mim, tirando-as meramente da minha cabeça.

Nesse post, falarei sobre o meu método pessoal de fazer anotações. Algumas perguntas precisam ser feitas sobre elas. Por que anotar? Como anotar? Onde anotar? Quando anotar? Todas essas perguntas são particularmente importantes. Para fazer uma boa anotação, todos esses itens precisam ser cumpridos e entendidos.

Acredito que muitas pessoas não fazem anotações porque simplesmente nunca pararam para pensar no porquê de fazê-las. Ou por mera preguiça. Serei o mais didático que puder, separando cada item para que a leitura seja facilitada e que o texto fique acessível e praticável.

Por que anotar?

Eu poderia dar inúmeros motivos, mas fico com dois: a nossa memória não é confiável e o nosso cérebro joga fora grande parte das informações adquiridas no dia quando vamos dormir.

Portanto, anotar é a maneira de reter as informações que você considera importantes. Somente anotando é que internalizamos permanentemente as informações adquiridas de um livro, para então, transformá-las em conhecimento.

Ninguém tem problemas de memória (apenas em casos clínicos, devidamente diagnosticados). O que acontece é que na maioria das vezes, simplesmente lemos/ouvimos/vemos alguma coisa e como não fizemos nenhuma anotação sobre aquilo, o nosso cérebro classificou aquela informação como desnecessária e a jogou fora enquanto dormíamos.

Como anotar? 

Como estamos em 2017, muitos já devem ter pensado: no Evernote, no computador, no iPad! Não, todos equivocados. As neurociências já comprovaram que para ter uma absorção satisfatória e permanente, nenhum dispositivo eletrônico substitui o bom e velho lápis.

Quando escrevemos à mão, estamos estimulando diversas áreas do nosso cérebro que propiciam e facilitam a retenção do conteúdo pretendido. Enquanto quando digitamos, pouquíssimas áreas são estimuladas. Além do mais, quando escrevemos à mão, a informação vai para o nosso HD, para o nosso cérebro, mais especificamente para uma região chamada córtex e fica lá permanentemente. Já quando digitamos, estamos colocando a informação que deveria ficar no nosso cérebro, no HD de um computador.

Onde anotar?

Em um caderno! Em qualquer caderno? Não. Eu recomendo um caderno com as dimensões grandes, aqueles de 200 mm x 275 mm, geralmente usado por alunos de escolas e de faculdades. Por que? Porque a folha tem bastante espaço, é mais confortável para se escrever e além disso, você tem uma visão muito mais ampla das anotações que fez. No momento, estou usando um caderno com de 200 mm x 275 mm de 96 folhas, mas o próximo será um de 200.

Quando anotar?

O mais rápido possível. Como eu já disse antes, fazer anotações não é para os preguiçosos. As anotações precisam ser feitas NECESSARIAMENTE no mesmo dia da leitura. Por que? Porque como já foi falado aqui, o nosso cérebro tem um mecanismo de remoção que é ativado toda vez que dormimos. Qualquer cochilo que tenha mais de quinze minutos de duração, já começa a apagar as informações adquiridas naquele dia.

Então, caso você queira reter uma informação, você precisa anotá-la antes de dormir. Literalmente antes de dormir? Não. Se você acabou de ler um livro de manhã e quer fazer um resumo sobre ele, pode fazê-lo assim que acabar de ler o livro. Ou depois de alguns minutos, você pode lavar a louça e depois começar a fazer o resumo, por exemplo. Você pode fazer o resumo a partir do momento em que acabou de ler até o momento em que for dormir, mas nunca depois de dormir.

Como fazer as anotações dos livros paradidáticos? 

Os livros paradidáticos são os livros de ficção. São romances, novelas, contos, crônicas, etc. São livros lidos por prazer, por entretenimento. Você pode então se perguntar: por que vou fazer anotações de livros que só leio por entretenimento? Duas respostas: em alguns casos, os livros paradidáticos são pedidos nos vestibulares; e como já conversamos, sem anotar, quase tudo é esquecido. Sabe quando você pergunta o que a pessoa achou do livro e ela diz que gostou e nada além disso?  É justamente para evitar que isso aconteça que as anotações existem.

Exemplo de anotação detalhada (voltada para livros de vestibular ou para algum livro paradidático que você queira detalhar com precisão)

"João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro." (AZEVEDO, 2009: 9)

O que anotar? Tudo o que você considerar importante! Mas antes de anotar, é preciso fazer as marcações. Eu uso uma régua pequena e um lápis para que fiquem bem retas e precisas.

Exemplo de marcação 

"João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro."

Exemplo de anotação por tópicos

- João Romão trabalhou dos treze aos vinte e cinco anos para um vendeiro em Botafogo
- A taverna era suja e obscura
- Em doze anos de trabalho, juntou um conto e quinhentos (em torno de R$ 190.000,00)

Exemplo de anotação por resumo geral

João Romão trabalhou dos treze aos vinte e cinco anos para um vendeiro numa taverna suja e obscura localizada em Botafogo. Nesses doze anos, conseguiu juntar um conto e quinhentos (em torno de R$ 190.000,00)

Separação por capítulos

A cada capítulo, você deve ir fazendo as marcações e depois as anotações (no mesmo dia). Preciso fazer anotação de capítulo por capítulo? Não, por exemplo, você pode ler uns três capítulos e fazer as anotações sobre eles. Desde que as faça antes de dormir.

OBS: O que nos leva a refletir que se você ainda não fez as anotações do dia e costuma ler bem antes de dormir, é melhor que comece a largar esse hábito e pelo menos reservar a última meia hora do seu dia para fazer as anotações e voltar a ler só no dia seguinte.

Resumo geral (para livros que você lê meramente por prazer)

Com os livros que são lidos meramente por prazer, eu costumo fazer as marcações da mesma maneira que faço com os para vestibular, mas as anotações são completamente diferentes.

Uso o método por resumo geral. Assim que acabo de ler o livro (ou no mesmo dia, conforme já conversamos). Começo a anotar todas as minhas lembranças e impressões sobre ele. Como acabei de ler, ainda estou com a história fresca na cabeça e posso fazer um bom resumo geral da obra.

É recomendável que façamos isso em todos livros que lemos? Por que não? É melhor perder meia hora escrevendo sobre o livro e depois apenas reler o resumo do que esquecer de praticamente tudo e ter que reler o livro, e não só o resumo.

Como fazer as anotações dos livros didáticos? 

Com os livros didáticos, temos que fazer algumas mudanças no nosso método. Como são livros que você necessariamente quer tirar algum conhecimento, é bom que faça marcações, anotação por tópicos e um resumo geral, mas esse resumo geral é sobre o que você APRENDEU e não quais foram as suas impressões.

Os livros didáticos devem ser livros como se fossem uma aula. O autor é o professor e o livro é a aula. Enquanto você está lendo, está entendendo o conteúdo, na posição de de aluno. E quando começa a fazer as anotações, está aprendendo o conteúdo, numa posição de estudante.

Aluno é alguém que assiste aula. É uma tarefa passiva e coletiva. Estudante é alguém que estuda, que escreve, que faz marcação, que faz anotação; é uma tarefa ativa e solitária. Não se estuda com ninguém.

Exemplo de marcação e anotação para livros didáticos

"O problema das origens da nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a história cultural, mas nos mesmos termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um complexo colonial de vida e de pensamento." (BOSI, 2011: 11)

Exemplo de marcação 

"O problema das origens da nossa literatura não pode formular-se em termos de Europa, onde foi a maturação das grandes nações modernas que condicionou toda a história cultural, mas nos mesmos termos das outras literaturas americanas, isto é, a partir da afirmação de um complexo colonial de vida e de pensamento." 

Exemplo de anotação por tópicos

- A literatura brasileira não pode ser moldada nos moldes europeus, mas nos de países colonizados, como todos os países da América

Exemplo de anotação por resumo geral

Como o Brasil é um país que foi colonizado e tem um pensamento e um modo de vida baseados nos outros países colonizados, ele não deve basear a sua literatura nos moldes europeus, mas sim nos moldes dos outros países colonizados e na sua própria colonização.

Uma observação importante para concluirmos

Caso você queira anotar alguma frase do livro, você deve anotá-la por inteiro, sempre começando e terminando a citação com aspas e usando o seguinte modelo, logo depois das aspas finais: (ÚLTIMO SOBRENOME DO AUTOR, ANO: PÁGINA), como no exemplo: (BOSI, 2011: 11).

Referências Bibliográficas:

Piazzi, Pierluigi. Aprendendo Inteligência: manual de instruções do cérebro para alunos em geral. São Paulo, Aleph, 2008.

Azevedo, Aluísio. O Cortiço. São Paulo, Saraiva, 2009.

Bosi, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo, Cultrix, 2011.