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Nossas fundações de areia

"Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as porcentagens, temporariamente. E esta é a melhor e a pior parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de uma montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos." Charles Bukowski

Ninguém melhor do que Bukowski para falar da efemeridade (prometo que essa será a única palavra complicada do texto) da vida. Nunca nos é falado sobre o fator tempo e como ele é importante na nas nossas vidas. Hoje você está no auge, no topo da montanha, amanhã, na sarjeta, jogado, esperando por migalhas.
As coisas acontecem e simplesmente acontecem. Não temos como fugir disso. Não existe final feliz no mundo real. O final feliz é uma ilusão animadora, feita para convencer meia dúzia de gatos pingados. A vida é crua, a vida é uma montanha, pobre dos que vivem numa ladeira. A vida é encontro e desencontro com o mundo.
No final das contas, tudo rui, tudo cai por terra. O problema é que raramente estamos preparados para o fim. Não por não sabermos da sua existência, mas por nos enganarmos, achando que tudo é eterno. Nossas relações são mesmo finas como papel, são mesmo fundações de areia. Feitas para não dar certo. E apesar de tudo, acreditamos que tudo vai dar certo.
Uma vez um amigo me disse, quando eu dissera que beberia só uma cerveja, que não existe essa de só uma cerveja. Existe o suficiente. E talvez seja assim que as coisas devessem funcionar: nem de mais, nem de menos, só o suficiente.
Não existe fórmula para não sofrer. Não entramos em nada com o pensamento de que aquilo vai acabar um dia. Queremos que o amor dure para sempre. Queremos que tudo de bom seja eterno. Nada é eterno, nem as nossas lembranças. Lembramos do passado, no presente. E um dia vamos nos lembrar que lembrávamos das nossas lembranças. Riremos por lembrar de como sofríamos com as nossas lembranças, de tudo que deixamos ou tivemos que deixar para trás.
Um hora, bem de repente, olharemos para trás e nos questionaremos por ter sofrido por aquilo. E tudo bem, sofremos porque tínhamos que sofrer. Nada melhor que uma porrada. Só levantamos quando caímos. E só aprendemos com os nossos erros.
Talvez o segredo seja mesmo não criar tantas expectativas. Ir vivendo, dia após dia, sem planos, sem roteiros. Expectativas nos fazem despencar de um abismo.
Aproveitar a vida na crueza em que ela se apresenta. Aproveitar cada momento de alegria, cada sorriso, cada suspiro de felicidade, cada boa conversa, cada abraço apertado, cada orgasmo. E ainda assim não teremos eliminado a tristeza, mas ao menos saberemos que apesar de toda a capacidade que o mundo tem para nos entristecer, somos capazes de levantar, de seguir em frente e de aproveitar cada dia como se fosse o último.

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